
Sou um optimista.
Estamos a passar uma fase terrível, mas estou certo de que a vamos superar. É tempo de nos prepararmos para a sua superação.
Passei a minha vida profissional até ao ano 2000, em que tudo corria muito bem, trabalhava no que gostava, a minha carreira e ascensão foi devida a intensa luta, trabalhava com equipas de pessoas muito boas, sempre em constante formação. Ganhava bem.
No ano de 99, comecei a ouvir, certos avisos de que as coisas teriam de mudar, mas ouvia não escutava, pelo que nunca pensei que o meu trabalho fosse posto em causa.
Os objectivos eram alcançados, pelo que os “avisos” me passavam ao lado, estava numa situação de acomodação.
Até que chegou o dia de me dispensarem.
Tinha 40 anos.
O quê??? Eu???? Sim Tu, fostes óptimo, mas, chegou a hora.
Primeiro impacto brutal mas a vida continua, e com o trabalho realizado sempre em grandes “marcas”, com um bom nome no mercado, e cheio de eu, eu, eu….vou para o mercado porque vou safar-me e refazer a vida.
Estamos em plena época de adaptação e mudança do escudo para o euro, a economia estava num bom ciclo, era a época dos yuppies em Portugal.
Família e amigos, avisaram-me, só que estava cheio de eu, eu, eu.
Aparece-me então a hipótese de fazer uma sociedade, com uma pessoa que não conheço bem, mas que quer investir. Logo penso que aí poderá estar uma solução, aliando o conhecimento e o nome que tenho no mercado, ao poder financeiro do referido sócio, embarco no referido projecto.
Família não se escolhe. Amigos são a família que escolhemos, todas as outras pessoas são conhecidos.
Os sócios são uma escolha nossa, muito difícil, por vezes cruel, que tem de ser bem meditada para ambos os lados, tem de possuir os mesmos princípios éticos, tem de ter capacidades comuns e outras que se complementem, deve ser uma muito “pensada” atitude.
Família e amigos avisam-me só que ainda estou meio cheio de eu, eu,….
Vai até 2005, altura em que acaba a dita sociedade. Tenho de dar volta à vida.
Fico então com uma sociedade em regime de franchising. Nos dois primeiros anos, tudo excelente, invisto tudo, ganhamos todos os prémios a nível nacional e ibérico, o meu ego está em cima.
Quando entro na sede do master “somos levados em ombros”, a nossa equipa é o exemplo da rede, somos chamados às “convenções” para partilhar o nosso modo de trabalho, somos convidados para todos os eventos do “master”, somos, somos,…um pormenor, o dinheiro foi sempre, sempre o meu, do “master” zero.
Em Fevereiro de 2008 estou (estamos minha família directa), financeiramente depauperados. De acordo com família e amigos tomamos a decisão de “fechar”, apesar das clausulas de rescisão estratosféricas existentes, a decisão tem de ser, não posso mais “empurrar o problema com a barriga para a frente”.
De um momento para o outro, deixamos de ser exemplos, deixamos de ser convidados, passamos a ser vegetais.
Valha-nos a Família e Amigos.
Só conseguimos fechar em Fevereiro de 2009, altura em que a arrogância do “master” ainda se fazia sentir. Em 2010 “rebentaram”, deixando uma rede falida.
Nessa altura fui tentar saber, como é que o Estado me poderia ajudar, sempre descontei, não tenho dividas fiscais ou sociais e deparei-me então com o pior dos piores.
As comunicações eram sempre de que “estamos a olhar pelas empresas e contribuintes”, vamos ter novas linhas de crédito, de incentivo às empresas,…… blábláblá.
Primeiro ponto, tem de recolher documentos nas finanças e segurança social, por sinal os dois serviços em Portugal, onde uma pessoa que vai lá, já leva questões menos simpáticas, e as pessoas que nos recebem (salvo raras, muito raras excepções), estão mais mal dispostas, falam mais alto, o seu semblante e o que comunicam é de modo pior que o nosso. Bom começo.
Segundo ponto, a burocracia de documentos e mais documentos, “isso não é aqui”, então onde me posso dirigir??? “pois tem de fazer um novo requerimento”………
Terceiro ponto, os timings do processo.
A minha vida só conseguiu melhorar quando me reinventei e consegui ver-me livre do Estado “big brother is wacting you”.
Tudo isto me veio à memória quando na passada semana escutei atentamente a “comunicação” do primeiro ministro (secundado por uma “ministra” do trabalho, cuja postura,…….(onde é que está o buraco para fugir disto???? por favor dêem formação à rapariga), quando afirma que as empresas para serem ajudadas, não podem dispensar pessoas.
Suponhamos; sou um investidor hoteleiro ou de restauração, investi na compra e recuperação de um edifício, fui à banca, o processo desenvolveu-se célere com as obras (não estou a referir-me aos municípios das grandes cidades, porque celeridade, aí não existe,….. bem, conforme…..), as instalações começam a funcionar, turismo sempre a “bombar”, overbooking aos fins de semana, 40% durante a semana, tenho o plano de negócio e os objectivos em sintonia, tudo em dia, ordenados, impostos, banca. Óptimo, negócio seguro.
Vem o coronavírus, tudo posto em causa de um momento para o outro, fins de semana com ocupação reduzida, semana vazio, que horror, tenho ordenados de famílias que dependem deste trabalho por pagar, não sei por onde me virar, fico muito expectante e ansioso com o que o governo tem para anunciar às 15h, não, não é agora, somos informados de que é às 18h, não, não é agora, é às 21h, nervos ao cimo da pele.
Finalmente a “comunicação” ao País.
Escuto, volto a escutar, ainda mais uma vez.
“Mas estou a entender????” Este fenómeno foi uma causa imprevista e abrupta, o negócio caiu em flecha, não tenho dinheiro para ordenados, e estão a dizer-me, que só me ajudam se não dispensar as pessoas”. Volto a escutar, “é mesmo isso que me estão a dizer.”
Não durmo, não vejo, não oiço, mas tenho de pensar. Então com calma, medito, no fim de algum tempo, questiono-me “tenho uma unidade rentável e produtiva, investi e criei postos de trabalho, tenho a minha situação social e fiscal em dia, entendo que é uma situação que ninguém previa, não tenho hipóteses de pagamento de ordenados, se vou à banca pedir crédito tenho juros a pagar (é o negócio deles), e tenho de continuar a pagar ordenados sem ter receitas, só para que o desemprego não aumente, e os números do governo se mantenham aldrabados”, e ainda oiço que “vai haver dor”.
Mas eu já vivi isto há anos, e são praticamente os mesmos que me dizem que “vai haver dor”.
Como penso sempre em achar uma solução, volto a questionar-me, porque é que não cortam o peso do estado, nomeadamente nos partidos políticos, autarquias, empresas e serviços estatais que estão falidos com dividas astronómicas e que não produzem nada.
Qualquer empresa com os resultados financeiras dos mesmos já tinha aberto insolvência, já os sócios tinham tudo penhorado, nome na listagem das finanças, etc, etc,…e “vai haver dor”.
É que existe um facto muito, muito importante, de que a grande maioria das pessoas desses “aparelhos”, começando no topo, nunca dormiram com ordenados e obrigações para pagar, sempre tiveram o seu salário garantido, no mínimo sejam empáticos, escutem, tenham a humildade suficiente para descer dos pedestais, deixem de se rodear de adoladores que fingem beber das vossas palavras, respeitem e ajudem directamente quem luta no dia a dia com ordenados e obrigações por pagar.
Temos de poupar, para reinvestir e reinvestir, quando o mercado voltar a abrir, se estivermos preparados tudo se recompõe, agora temos de cortar as gorduras, para crescer.
Volto a repetir cortem nas gorduras, que somos todos nós a pagar.
É bom que não nos esqueçamos que o estado deve ser o apoio do motor da economia, porque a economia em si não é o estado seguramente.
“Viver é enfrentar um problema atrás do outro. O modo como o encaramos é que faz a diferença.” Fernando Pessoa
2 Comments
Bom dia , li rápidamente o teu texto e pelo que percebi tens uma pequena unidade hoteleira. Caso seja isso, tenta converter para uma unidade de cuidados paliativos. Entra em negociações com alguém ligado ao Sistema Nacional de Saúde. Um Abraço de um colega de Raguebi Belenenses, que jogou como Defesa.
Obrigado Guilherme, abraço para ti.