
Estamos em mais uma época cíclica, a que os menos novos já vão estando habituados, e sempre que acontecem se volta a falar muito em liderança.
Mas o que é ser líder efectivo ou ser um blá blá blá.
Existe um facto de que muito me orgulho: tenho uma quantidade de pessoas com quem partilho e peço opiniões sobre vários temas, e numa muito recente conversa com várias destas pessoas, algumas que considero sábias levantámos e debatemos este tema.
E a conversa começa com uma questão. Muitas pessoas que estão ao “leme” de algumas empresas não respondem ou não devolvem chamadas telefónicas, mails,… solicitações de comunicação.
As opiniões são diversas; as pessoas vivem a “mil”, perdem-se com as suas agendas, acham-se demasiado importantes para responderem e decidem ignorar, não tem resposta e fogem, não sabem e não delegam em quem saiba, tem medo de responder, tem falta de visão, estão acomodadas.
Há um factor transversal a todas as atitudes quando não se responde ou devolve um qualquer contacto, que é o de falta de educação profissional, sendo que aqui a falta de liderança tanto pessoal ou profissional mais se faz sentir.
Quanto ao tempo, um artigo do Harvard Business Review, menciona duas questões relacionadas: a ocupação obsessiva do tempo e a incapacidade de nos afastarmos e refletirmos.
Dois professores de institutos europeus de economia e gestão salientam que os executivos “dizem que o recurso que mais lhes falta é o tempo. Porém se os observarmos, veremos que andam apressados de reunião em reunião, verificam o correio eletrónico constantemente, resolvem inúmeros pequenos problemas existentes e fazem milhentas chamadas telefónicas. Em suma, existe uma quantidade enorme de atividade rápida que quase não deixa tempo para a reflexão”.
Ainda esta semana, em conversa com uma pessoa que trabalha na equipa directiva de uma empresa, me confidenciava:“ ando nas lonas, precisava já de novas férias, estar-se em sistema hibrido ainda é mais penoso, são horas e horas de reuniões, ainda hoje tive 5 reuniões”.
Questionei se podia resumir as conclusões das mesmas em cinco minutos “bem, bem, bem ….não aperte mais comigo…”
Isto é ocupação de tempo não produtiva. Tempo “chato” em que por muitas vezes se tem de estar a ouvir pessoas que se gostam de ouvir a elas próprias, o eu, eu, eu não tendo a noção do aborrecido que isso se torna.
As lideranças necessitam desesperadamente de parar para pensar, para responderem às suas solicitações, de se afastar e de refletir ponderadamente sobre as suas experiências, os seus erros, o assumir de culpas. O que é decisivo é que quando se falhe, se falhe rápido, e se retirem ensinamentos dos erros cometidos para se recomeçar com maiores possibilidades de sucesso.
Devem criar um clima em que a verdade seja escutada, em que se enfrente a brutalidade da realidade. Não tenham medo de dizer que não sabem e de pedir ajuda, de agradecer. Deixem a arrogância e acomodação do pretenso “poder”. Sejam “educados” e “eduquem”. Mantenham o carácter (capacidade para cair e levantar-se mesmo quando todos estão contra) que lhes permitiu chegar onde chegaram.
Não caiam na burocracia, que deseduca, que concede credibilidade excessiva às opiniões de “lideres” vinculados a precedentes, em que se desencoraja o pensamento rebelde, calcificam estruturas organizacionais, subaproveita os conflitos de escolha, frusta a rápida redistribuição de recursos, desencoraja a que se arrisque, politiza a tomada de decisões, desalinha poder e capacidade de liderança, desvaloriza sistematicamente a originalidade.
A maior parte dos gestores e até CEO, tornam-se patrões e não lideres. Ostentam poder em vez de se transformarem a si próprios, aos seus trabalhadores e ás suas empresas.
Criem empresas que valorizem o desenvolvimento da comunicação transparente e transversal, competência, e inovação, e vejam como os lideres surgem.
Fernando Pessoa escreve que para “vermos efectivamente a realidade como ela é, precisamos de aprender a desaprender”. De facto menos é mais.
Não se deseduquem, por favor….