
Estou sempre disposto a aprender e partilhar conhecimento, para tal, e porque já foram muitos os erros que me fizeram crescer, gosto e privilegio o “teste” pessoal.
O sector automóvel em todas as suas vertentes foi um sector no qual trabalhei durante muitos anos, área de negócio essa, de que tenho muito boas recordações e, na qual deixei muitos e bons testemunhos que ainda fazem o favor de ser meus Amigos.
Li e escutei muitas opiniões de pessoas ligadas ao negócio dos automóveis eléctricos. Umas de uma absoluta certeza quanto aos benefícios dos mesmos, outras que não manifestam a sua opinião, porque não podem, outras bastante cépticas quanto ao uso rentável emocional e racional do mesmo.
Como tal aluguei um automóvel eléctrico de uma reputada marca, gama média, durante um mês.
Aluguei porque comprar um carro novo, como particular, é um acto emocional, que custa logo que se põe o automóvel a “olhar” para a saída da porta do stand, um grande percentual do valor do mesmo “já foi”, salvo muito, muito raras excepções.
Para as empresas a compra de carros novos é por necessidade e nos eléctricos muito, para não dizer que só, por benefícios fiscais.
Faço uma busca referente às autonomias das viaturas de várias marcas. Optei por uma marca que conheço bem, que sempre se mostrou extremamente fiável e segura.
A autonomia que na marca afiançam ser de cerca de 400 kms, não é verdadeira em qualquer circunstancia que se verifique, é mentira. A uma velocidade máxima de 95kms, o máximo que consegui de autonomia foi de 260 kms, sem ar condicionado, sem qualquer outro ponto de consumo ligado, e sempre com a enorme preocupação da energia faltar, e ficar “agarrado” na estrada, pendente de um reboque.
E que mês de transtorno passei, por duas razões objectivas: escassa autonomia do automóvel, e pela falta de educação das pessoas.
Mediante tais condicionalismos, e porque o carro até era bastante agradável, arrisquei e planifiquei uma viagem, mais concretamente a Sevilha, e aqui foi o “desastre”.
Com base numa plataforma digital da qual me fiz subscritor para poder carregar a energia da viatura, constatei que o mapa de postos de carregamento que constam da mesma não corresponde á realidade. Nos contactos existentes, sempre digitais, porque ninguém “dá a cara”, a resposta via mail é: “ Por vezes, pode haver postos de carregamento que não conseguem iniciar a sessão diretamente através da app, ou do cartão, devido a instabilidades de comunicação”.
Ligando para os representantes e contactos que se encontram nos referidos postos, as frases que mais se podem ouvir: “lamentamos o posto está sem comunicação”, “lamentamos esse posto não está activo”…
Isto em Portugal, porque se formos para os nossos vizinhos Espanhóis, que não aderiram aos “eléctricos”, aí a tormenta ainda é maior. Muitos dos postos anunciados na referida app, não existem. Os poucos postos de carregamento são de carga “lenta”, nas povoações fora das estradas principais, pelo que se demora eternidades para carregar um mínimo de autonomia. Só a cerca de 100 kms de Sevilha, existe um posto de carregamento rápido (sempre mais de 1,40 hora) na área de serviço de Monastério, em que o preço do carregamento, é práticamente o dobro de Portugal, muito perto do preço que fica atestar um depósito de gasolina.
Um outro factor é a falta de educação das pessoas, e isto por diversas vezes em Portugal.
No meu plano de viagem ( se algum dia supus ter de fazer um plano de viagem, para uma distância de cerca de 500 kms!!!! ) o primeiro carregamento era na cidade de Elvas. Procurei postos de carga rápidas.
Achei e muito confiante, estacionei no referido posto, tudo dentro do planeado, que bom.
Os procedimentos normais mas o carro não carrega. Vou á loja que está associada ao referido posto. “Não está em funcionamento, desde há pelo menos três semanas”. Dirigi-me a um outro com o mesmo resultado. Autonomia que tenho no carro é de 10 kms. Fui a um outro de uma zona comercial que tinha os dois modos de carregar. Temos de aguardar.
Passados 44 minutos de espera, falamos para o fornecedor de energia no referido posto. “Essas duas viaturas já se encontram totalmente carregadas, a que se encontra na carga rápida está carregada há 2 horas e 54 minutos, a lenta há 1 hora e 38 minutos”.
Quando as pessoas chegam, para buscar os seus automóveis, e questionados sobre se não achavam que era uma falta de respeito estacionarem aqui os automóveis para carregar, sendo que a app, avisa quando os carros estão carregados, e não terem vindo buscar os carros? Resposta…. meterem-se rapidamente nos automóveis, não olham, não falam, arrancam,……
O meu plano de viagem está atrasado já em mais de 3 horas.
Em Espanha, tive de circular a não mais de 80 kms, sempre olhando pela autonomia, parando numa povoação, onde à porta do “ayuntamento” me deixaram carregar um mínimo, para ser possível chegar a Monasterio, e de seguida a Sevilha.
Resultado, esta viagem durou 9 horas e 15 minutos.
Em Portugal foram vários os dias em que me tive de levantar de madrugada para ir pôr a viatura a carregar, de modo a poder fazer a minha vida, e agradecendo a uma das empresas para a qual presto serviços o favor de durante o dia aí me deixar carregar.
Reparem que não estou a mencionar o que sabemos que se passa em zonas de férias em que para além da falta de postos de abastecimento eléctricos, o mais flagrante é da falta de educação e de vergonha cívica das pessoas, que não se incomodam com terceiros.
Os factos são factos….por muito incómodos que sejam.
Em minha opinião, o carro eléctrico, pode ser um agradável segundo utensilio em ambiente urbano, nunca para mais que isso.